Em entrevista ao Conselho Federal de Odontologia (CFO), Sílvio Cecchetto, coordenador da Campanha de Prevenção do Câncer de Boca “Sorria para a Vida” e Presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD), evidencia que o acesso à informação é a medida mais eficaz de prevenção ao câncer bucal. Silvio Cecchetto explica que iniciativas simples como higienização adequada e auto-exame bucal, aliadas à consulta regular ao Cirurgião-Dentista, podem reduzir a incidência de câncer bucal, que hoje ultrapassa 15 mil casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Neste 8 de abril – Dia Mundial de Combate ao Câncer –, o Sistema Conselhos de Odontologia fortalece a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce como fator decisivo para salvar vidas. Como o câncer bucal é considerado um problema de saúde pública mundial, independente do cenário de pandemia, os Conselhos de Odontologia também enfatizam, na entrevista, a importância do papel social conjunto das entidades representativas da categoria para integrar a saúde bucal às ações prioritárias da ONU. O trabalho reforça a necessidade de incluir a saúde bucal na declaração política da Cobertura Universal de Saúde, da ONU, como forma de diminuir o quadro mundial de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), o que inclui as doenças bucais.
– Quais são os desafios no combate ao Câncer Bucal?
É preciso observar algumas perspectivas centrais que colocam o Brasil como o terceiro país no mundo com maior incidência do câncer de boca: 1 – falta de informação adequada à população para conduzir o diagnóstico e tratamento precoce da doença; 2 – o crescimento da população idosa, que representa também o envelhecimento celular e está ligado ao surgimento do câncer; 3 – aumento de do número de casos de HPV (papilomavírus humano), sendo o sexo oral sem proteção a principal forma de contaminação.
No combate à desinformação sobre o câncer bucal, é importante considerar fatores internos, a exemplo das características genéticas e doenças auto-imunes e fatores externos, como o consumo de cigarro, bebidas alcoólicas, alimentação não saudável, o que inclui a incidência de HPV. Na pandemia, os níveis de estresse e de ansiedade também contribuíram para o consumo excessivo de tabaco e de bebidas alcoólicas, o que impactou também na rotina alimentar. Cada pessoa enfrentou dificuldades específicas nesta pandemia, maios ou menos complexos. As diferentes condições socioeconômicas e culturais em nosso país também dificultam com o trabalho de prevenção do câncer bucal.
– Quais as principais ações conduzidas à frente da Campanha de Prevenção de Câncer de Boca no último ano?
Em virtude da pandemia, as ações foram desenvolvidas expressivamente em ambiente virtual no último ano. A campanha ganhou força nas redes sociais, inclusive com o apoio intenso dos Conselhos Regionais de Odontologia. Sem dúvida, o maior incentivo esteve voltado para a realização do auto-exame, dessa forma, tanto os Cirurgiões-Dentistas, responsáveis pelo repasse dessa orientação adequada, quanto os pacientes, tornam-se agentes fundamentais no combate à prevenção da doença.
Precisamos desmistificar o aparente ‘medo’ da população sobre o câncer bucal. Precisamos ampliar o assunto e quebrar o tabu social sobre a doença. O câncer é a segunda doença que mais mata no mundo Nesse contexto, o livro digital “Prevenção do Câncer Bucal” foi amplamente disponibilizado, de forma gratuita à categoria e população.
– Em âmbito mundial, qual o posicionamento do Brasil junto à Federação Dentária Internacional?
O Brasil possui representatividade permanente junto à Federação Dentária Internacional. Em âmbito internacional, é importante ressaltar que o Brasil foi um dos primeiros países a alcançar o mais alto nível das seis medidas “MPOWER” de controle do tabaco, que seguem preceitos semelhantes ao Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que trata justamente da prevenção e do controle do fumo, da taxação dos impostos sobre consumo do cigarro, entre outros itens importantes.
Na prática, o Brasil conseguiu implementar as melhores práticas no cumprimento das estratégias preconizadas pela Organização Mundial da Saúde. O Brasil é referência internacional no combate ao tabagismo, por isso o apoio do CFO junto a esta entidade internacional é fundamental.
– Quais os cuidados principais que devem ser seguidos no combate ao câncer bucal?
Os cuidados básicos de higiene devem ser intensificados, o que inclui o uso de enxaguante bucal, fio dental e escovação regular três vezes ao dia. É preciso estar atento a lesões que permaneçam por mais de 14 dias. O câncer de boca é indolor e silencioso, é preciso estar alerta a aftas que não cicatrizam e não doem, manchas brancas ou vermelhas, nódulos ou caroços na boca, lábios, bochechas, língua e gengivas. Bem como dor e dificuldade para mastigar ou engolir, sangramentos na cavidade oral sem causa aparente, dentes moles sem doença periodontal associada, principalmente em pacientes do grupo de risco que são fumantes e etilistas. Lesões brancas e vermelhas são consideradas pré-cancerizáveis, que são lesões por traumatismos reincidentes, originadas por prótese mal adaptadas ou por má higiene bucal.