“Os cuidados com a saúde bucal são muito importantes e a maior parte das pessoas sabe disso. Entretanto, a utilização dos serviços odontológicos ainda é muito baixa no Brasil, devido principalmente às dificuldades de acesso por parte da população”.
Esta é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas.O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) de 1998, realizada pelo IBGE, na qual foram entrevistadas 344.975 pessoas de várias regiões do país.
A pesquisa dividiu a população f em cinco níveis sócio-econômicos e em quatro faixas etárias (0 a 6 anos, 7 a 19, 20 a 49 e 50 anos ou mais).
As conclusões publicadas na revista Ciência & Saúde Coletiva, mostram que, apesar de o índice médio de dentes cariados, extraídos ou restaurados (CPO-D) de crianças brasileiras de 12 anos ter baixado de 6,7 para 3 (no período de 1986 a 1996) ele ainda está no limite da meta da Organização Mundial de Saúde e muito acima da média global que é de 1,74.
Poder aquisitivo X Saúde Bucal
Os pesquisadores buscaram ainda “avaliar o acesso, utilização, modo de financiamento e avaliação dos atendimentos odontológicos e estudar seus diferenciais entre os grupos sociais”.
A equipe constatou que cerca de 33% dos entrevistados havia procurado serviço odontológico em menos de um ano e que aproximadamente 19% deles nunca havia consultado o dentista. Além disso, os pesquisadores observaram que a procura por esse tipo de serviço foi de apenas 1,4%, concentrando-se na faixa etária de 0 a 6 anos – 77% desse grupo nunca tinha ido ao dentista contra 4% do grupo de adultos.
Também verificaram diferenças no que diz respeito ao nível sócio-econômico: no total, 39% dos 20% mais pobres nunca consultaram um dentista, contra 5% dos 20% mais ricos. “Fica evidente que, no grupo mais rico, os indivíduos que nunca foram ao dentista são sempre em menor proporção, e que esta proporção cai muito mais rapidamente com a idade do que entre os mais pobres”, afirmam no artigo.
Já a proporção de pessoas que havia consultado um dentista há menos de um ano foi sempre maior no grupo dos mais ricos.
Com relação ao modo de financiamento dos atendimentos odontológicos, os pesquisadores constataram que o SUS realiza apenas 24% desses atendimentos e não cobre a demanda da população.
Ainda que a maior parte da população mais rica pague por esse serviço, através dos planos de saúde, boa parte dos indivíduos mais pobres também tem que disponibilizar dinheiro para esse fim. “Quase 14% dos atendimentos odontológicos para o grupo mais pobre envolveram algum pagamento”.
Prevenção
Os pesquisadores chegam à conclusão de que as desigualdades no acesso e utilização dos serviços são muito grandes.
Contudo, afirmam que, “antes de se investir maciçamente em serviços especializados de Odontologia, deve-se investir na utilização de flúor (em cremes dentais e na água) e na melhoria das técnicas de higiene bucal, além de se realizar uma avaliação mais aprofundada da realidade nacional”.
Agência Notisa
Rio de Janeiro – CFO