Em entrevista ao Conselho Federal de Odontologia (CFO), a Cirurgiã-Dentista especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Francine Moreira (CRO-GO-CD-9024), esclarece a importância das mudanças essenciais à rotina de cuidados com a saúde bucal de pessoas com deficiência e grupos especiais neste período de pandemia.
As orientações reforçam, neste 21 de setembro, Dia Nacional de Luta da Pessoa Portadora de Deficiência, a importância do olhar inclusivo e da Odontologia humanizada destinada para esses pacientes que demandam procedimentos mais complexos.
– De que forma a pandemia de covid-19 impactou no atendimento odontológico para PNE?
O distanciamento social foi bem impactante, pois para atuar na OPNE precisamos estar perto do paciente, assisti-lo com frequência e passar segurança por meio do olhar e do toque. Além disso, com a paralisação dos serviços odontológicos, a maioria dos pacientes com necessidades odontológicas especiais ficou sem assistência e, hoje, apresentam necessidades acumuladas que demandam procedimentos mais complexos. Então, o nosso grande desafio é manter uma OPNE humanizada, mesmo que à distância.
– Quais as principais mudanças que foram adotadas para preservar a saúde desses pacientes?
A recomendação no início da pandemia foi voltada para atendimento apenas os pacientes em situações de urgência e emergência. No entanto, um paciente com necessidades odontológicas especiais, principalmente, aqueles com alterações adversas de comportamento ou com importantes comprometimentos sistêmicos devem ser mantidos em programas de prevenção, pois se os mesmos chegarem a apresentar focos infecciosos na cavidade bucal ou a um quadro de dor, podem ter sérias complicações. Particularmente, considero até desumano e antiético aguardar o paciente estar em uma situação de dor para ser atendido. Essa Odontologia curativa deve ficar no passado. Nós precisamos promover saúde e, para isso, procedimentos de prevenção e educação em saúde não devem ser adiados, portanto, devem ser realizados de uma maneira diferente nos dias atuais. Podemos lançar mão da teleorientação e do telemonitoramento dos pacientes, o que nos permite realizar orientações sobre a manutenção de uma boa saúde bucal e monitorar qual o momento mais oportuno para que esse paciente vá ao consultório, com o intuito de prevenir que ele chegue a uma situação de urgência; os pacientes em tratamento oncológico, são ótimos exemplos. Sabemos que a mucosite oral é uma das consequências mais incapacitantes para estes pacientes, pois aumenta o risco de infecção, podendo evoluir para infecções sistêmicas graves, interferindo no tratamento e na sobrevida do paciente. Sabemos também que a terapia de fotobiomodulação (Laserterapia) é fundamental na prevenção do surgimento e agravamento de mucosites. Então, é inviável aguardar que esse paciente sinta dor ou que ele chegue a um nível mais grave dessa condição para intervir. Com certeza não é essa a OPNE que realizamos. Precisamos buscar a humanização da Odontologia, em quaisquer circunstâncias.
– Quais os cuidados que mães/pais podem adotar considerando o cenário pandêmico?
Costumo lembrar aos cuidadores dos meus pacientes que os cuidados com a higiene bucal não podem ser negociados. Assim como o banho e a alimentação, escovar os dentes é uma atividade básica de vida diária, tem que ser realizada. Então, é importante que os cuidadores mantenham contato com o Cirurgião-Dentista que assiste seu dependente, de forma a definirem juntos as melhores estratégias de promoção de saúde bucal.
– Quais os novos cuidados essenciais com biossegurança em Odontologia de PNE?
São os mesmos cuidados preconizados para a Odontologia de forma geral, utilização completa e correta de EPIs, desinfecção de superfícies, espaçamento maior entre os atendimentos, dentre outros. No geral, tudo se aplica à OPNE, mas por se tratar de pessoas com deficiência e grupos especiais muitas vezes vamos ter que ser flexíveis em algumas regras. Tem paciente que precisa ser acompanhado durante a consulta odontológica, por dois ou três acompanhantes; o paciente cadeirante tem que ir com sua cadeira-de-rodas até ao lado da cadeira odontológica; tem paciente que necessita de uma intervenção em domicílio; outros pacientes necessitam de estabilização. E se pararmos para refletir, muitas outras situações nos levam a flexibilizar algumas regras gerais. Mas flexibilizar não quer dizer negligenciar. Na verdade, ao flexibilizar criamos cuidados adicionais que vão de encontro a necessidades dos nossos pacientes.
Francine Moreira (CRO-GO-CD-9024) possui graduação e mestrado em Odontologia pela Universidade Federal de Goiás, especialização em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais e doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás. Habilitada em Lasers na Odontologia e Sedação Consciente com Óxido Nitroso. É Professora Adjunta da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás.
Por Michelle Calazans, Ascom CFO.
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